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domingo, 23 de junho de 2013

Considerações sobre os protestos em SP

Seguem algumas considerações sobre a onda de protestos que tomou conta de São Paulo nas últimas semanas. Como acompanhei por São Paulo vou apenas falar por esse ponto de vista. E existem muitos aspectos a respeito de tudo o que ocorreu, então essas ideias soltas não esgotam (nem chegam perto) o que penso a respeito. 


Classe Média

Uma das primeiras criticas que apareceram sobre o protesto dizia que eles eram guiados por estudantes oriundos da classe média, que sequer utilizavam o transporte público. Esse argumento é a defesa incondicional de que a classe média ignore os problemas relegados as classes mais desfavorecidas e olhe apenas para seus próprios problemas. Como é possível defender algo assim? Houve um tempo em que pensar naqueles que tinham menos era chamado de solidariedade.

É o argumento da desmobilização, um dos principais legados da ditadura militar brasileira, segundo a série de livros do Elio Gaspari. Uma dinâmica social onde o estudante estuda, o operário trabalha, o professor ensina, o atleta joga, o político cuida da política e ninguém deve ficar se metendo no assunto dos outros.

Número de participantes

Quem saiu as ruas, sobretudo na segunda dia 17 de junho, ficou assombrado com o número de pessoas que tomavam São Paulo. A cidade estava fechada em diversos pontos ao mesmo tempo, como Brigadeiro Luís Antonio, 9 de Julho, Faria Lima, Cidade Jardim e Avenida Paulista, além de uma grupo grande que se dirigia até o Palácio dos Bandeirantes. Mesmo assim, a imprensa em geral abraçou um número de 65 mil manifestantes como o oficial. Uma rápida olhada em imagens aéreas faz pensar o seguinte: ninguém sabe fazer essas contas realmente. Ou havia muito mais pessoas nas ruas de SP ou precisamos rever informações sobre o número de pessoas em eventos históricos como as Diretas Já.

Fico com a estimativa do Brasil de Fato, que foi a única que eu vi até o momento que apresentou algum método:

A estimativa de 250 mil só em São Paulo ainda é baixa. Baseado em outras coberturas de marchas, como a do MST, de Goiânia a Brasília, em 2005, que contou com a participação de 12 mil pessoas, a reportagem do Brasil de Fato sabe que uma fila única com 15 mil pessoas atinge uma extensão de cerca de 9 quilômetros. A marcha que percorreu o largo da Batata até o fim da Brigadeiro Luís Antônio chegando à Paulista (um trajeto de 9 quilômetros) contava com no mínimo 20 fileiras de pessoas (em alguns momentos 30, outros, 20). Ao considerar um "instante" fotográfico completamente cheio daí já seriam 300 mil pessoas. Considerando que este trajeto não tenha sido preenchido por completo de ponta à ponta no instante de uma fotografia, levamos em conta as outras duas colunas que se encaminharam para o Palácio dos Bandeirantes e para à frente da rede Globo. Um mar de gente que ocupou a marginal Pinheiros e a ponte Estaiada. Por isso, sem medo de errar, no mínimo estiveram nas ruas 250 mil pessoas, só em São Paulo.




Violência policial

A violência policial da quinta-feira, dia 13/6, foi a grande aglutinadora do protesto, mais do que a tarifa. Até então as pessoas estavam sendo bombardeadas por uma cobertura tendenciosa da imprensa, que limitava tudo a vandalismo, permeada por contrainformação nas redes sociais. Após todas as cenas de violência da quinta as pessoas marcharam em solidariedade aos atingidos, pelo direito de protestar pacificamente e não ser alvejado por balas de borracha. Isso fica claro no ódio as emissoras de TV. A PM quase merece um obrigado. 


Por outro lado, o MPL foi muito habilidoso em não deixar que tudo virasse uma marcha da liberdade na orla de Copacabana, fazendo com que a questão da tarifa permanecesse como um objetivo prático a ser alcançado. 

Vitória

A maior vitória de toda essa onda foi a volta da política às ruas. Eu discordo quando dizem que as pessoas estavam dormindo e fora das ruas. Morando na região da Paulista há quase 3 anos, eu sei muito bem que temos um protesto em São Paulo quase todos os finais de semana. Apenas para relembrar, recentemente tivemos a Marcha da Maconha e a Marcha das Vadias. Umas 3 semanas atrás eu fui acordado por uma marcha pró-Síria. E, se considerarmos que a Parada Gay é uma manifestação política, elas não são todas pequenas. Mesmo assim, não me lembro qual foi a última vez em que a política esteve tão presente em cada roda de café ou mesa de bar. E isso é muito importante. 

Haddad

Fui criticado por amigos por afirmar que a bomba explodiu na mão do Haddad, que não tinha nada a ver com isso. Rebatem dizendo que ele apenas manteve o sistema já vigente e que representa o poder estabelecido. Continuo com a minha opinião de que a administração Serra/Kassab passou 8 anos sem conceder um aumento ao funcionalismo, aumentando a passagem acima da inflação e cessando os investimentos em transporte público, sendo os verdadeiros culpados pela insatisfação.

Haddad tem apenas 6 meses de governo e demonstra que vai contra a lógica acima. O que fica claro com o desenrolar dos protestos é que ele ainda carece de muita habilidade política. Conduziu o tema com morosidade, permitindo que sua imagem se desgastasse, dando informações conflitantes com uma postura vacilante. Se ele tivesse uma veia política mais forte, por exemplo, teria capitalizado com o aumento menor do que o previsto que promoveu (de 3,40 previstos para 3,20), porém fez tudo de forma que quase ninguém ficasse sabendo. Por sorte ele ainda tem mais 3 anos e meio para mostrar a que veio.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Duas histórias

             Estou com uma amiga no teatro. Começa um monólogo cheio de tensão, com o ator parado ao lado de uma cama de hospital com a cara mais lúgubre do mundo. Ele começa a descrever o “desaparecimento” de sua mulher, sua solidão no mundo, a rejeição na sociedade. Explica que é suspeito de um crime hediondo. No auge da agonia ele relata como sua mãe foi atropelada e morreu na sua frente, quando ele tinha apenas sete anos. Nesse momento minha amiga se aproxima da minha orelha e sussurra: 
- Eu acho que esse cara ta com algum problema...

                                                                     ***

            Entro numa dessas lojas que o paulistano chama de doceria, mas que só vendem coisas industrializadas (O bom caipira sabe que uma doceria tem doces caseiros, sobretudo quindim). Pergunto pra um dos vendedores onde encontro um saco de Sonho de Valsa e ele grita para um colega do outro lado da loja:
           - Zé, mostra o Sonho de Valsa pro rapaz! Atravesso a loja até o lugar onde o Zé está e pego o bombom. Pergunto pro Zé onde tem pirulito. Ele se vira pro primeiro cara e grita:
           - Cidão, mostra o... para, com o braço estendido, pensa por um segundo e completa: “saco de pirulito pro rapaz”.

domingo, 29 de julho de 2012

Os 800 mil ou Meu Veríssimo Preferido

Tempos atrás achei num sebo um pequeno livro com uma coletânea de textos e charges sobre o governo de Fernando Collor, produzidos por três grandes autores brasileiros, Jô Soares, Millôr Fernandes e Luis Fernando Veríssimo. O nome era genial: Humor nos tempo do Collor.

Entre os trabalhos de Veríssimo estava uma pequena crônica chamada "Os 800 mil". Dotado de uma fina ironia, ela expunha toda a demagogia das declarações de Mário Amato, presidente da Fiesp na época, que afirmou que 800 mil industriais deixariam o país caso Lula chegasse a presidência em 89. Para fechar, uma perspicaz tirinha completando o adágio que diz que todo brasileiro é corrupto.

A crônica ficou na minha cabeça. Dia desses tive vontade de ler novamente, procurei na internet e não achei em lugar nenhum. Como é possível não ter um texto do Veríssimo da internet? Até os de outras pessoas levam o seu nome! Tomei a liberdade de transcrever e agora publico aqui, pra compartilhar com as 3 pessoas que leem esse blog...


Os 800 mil
 por Luis Fernando Veríssimo


            Os 800 mil industriais que, segundo Mario Amato, sairão do País se a esquerda vencer as eleições devem se precaver – pois do jeito que vai qualquer coisa pode acontecer no dia 15 de novembro – e ir preparando o seu êxodo. Ele deve ser organizado, e em vez de cada um pegar a família e as trouxas e rumar para o consulado mais próximo os 800 mil podiam se cotizar e comprar uma área, por exemplo, no meio-oeste dos Estados Unidos, onde fundariam a cidade de Brasileira, que com mais de três milhões de habitantes (supondo-se que cada industrial leve em média quatro dependente) e 800 mil indústrias já começaria a vida como um dos mais fortes pólos econômicos da América. Brasileira seria o Brasil dos sonhos dos 800 mil industriais do Amato. Ou seja, o Brasil sem o PT, sem a CUT, sem o nosso atraso e os nosso políticos – e com o dólar legal. É verdade que os 800 mil industriais encontrariam algumas dificuldades. Não conseguiriam mão-de-obra adequada, com os sindicatos americanos em questões como salubridade e segurança nos locais de trabalho. Suas margens de lucro teriam que ser reguladas pela perspectiva média do mercado, não pelo máximo suportável, sempre uma reciclagem dolorosa. Sua tendência para a formação de cartéis informais e alguns dos seus hábitos contábeis seriam reprovados pelo governo americano. Em pouco tempo bateria a saudade – ah o sol, o samba, o over – e não demoraria muito para que alguém propusesse um êxodo de volta. A esquerda no poder, à distância, não pareceria tão ruim. Voltariam todos.
            E, na chegada, um porta-voz daria as razões do retorno.
            - Sei lá. Não nos adaptamos ao capitalismo. 



quinta-feira, 12 de julho de 2012

Chupa Kassab, vai Corinthians!

No dia 4 de julho o Corinthians finalmente ganhou a Libertadores da América. Eu desci com o pessoal pra Av. Paulista e gritei até ficar rouco. Durante o dia a prefeitura tinha proibido a comemoração nesta via, mas nada pode conter a torcida. Assim, uma das piadas da noite foi xingar o prefeito. Chupa Kassab!


quinta-feira, 28 de junho de 2012

El juego del Pato

Os grandes clubes do futebol argentino são muito conhecidos no Brasil e sempre se relata a forma como a torcida desse país é apaixonada e intensa. Os argentinos são nossos grandes adversários no esporte bretão. O que quase ninguém sabe é que a Argentina tem um esporte oficial, declarado "El juego nacional", e ele nada tem a ver com as peladas.

O Juego del Pato, ou simplesmente Pato, é um esporte praticado sobre cavalos onde o objetivo é arremessar uma "bola com asas" (o pato) dentro de um aro metálico fixado em uma haste de 2,40 m. 

                                                                                   Bola com asas, o "pato"

Criado em meados do século XVI, o Pato era uma competição sem regras definidas e muitas vezes violenta, disputada entre estâncias rivais nos pampas argentinos, causando acidentes e mortes. O jogo chegou a ser proibido diversas vezes, sendo que a igreja católica declarou em 1796 que quem morresse jogando o Pato não tinha direito a um enterro cristão. 

O jogo foi regulamentado na década de 30, tendo herdado várias regras do Polo. Ele viveu seu auge de popularidade nos anos 40 e 50, quando foi criada a Federación Argentina de Pato e o esporte foi declarado como um dos símbolos da pátria pelo próprio Perón. Hoje ele ainda é bastante praticado no interior do país. 

Por que o nome é Pato? Nos primórdios do jogo, no lugar da bola com asas, as disputas eram travadas com um pato vivo!