Contra todos os argumentos dos amigos e parentes, contra todos os prognósticos do mercado e, talvez, contra sua própria razão, ele abriu uma vídeo locadora. E, como se não fosse o suficiente, resolveu que só alugaria fitas VHS. O nome era ‘Vídeo Magia 90’, o número remetendo à década. Só ele trabalhava na loja, que tinha apenas dois cômodos. Começava com uma pequena recepção, com balcão, uma estufa de salgados e uma TV de um metro e meio cúbico abaixo de um vídeo cassete de oito cabeças. Pôsteres preenchiam cada pedaço da parede.
Continuava em um salão com uma pequena janela, onde o acervo ficava exposto. Prateleiras pretas com 2 metros de altura preenchiam todas as paredes e riscavam quatro vezes o centro, formando corredores estreitos com um ar sombrio, quebrado apenas pela cortina vermelha, ao fundo, que delimitava os ‘filmes adultos’.
A inauguração despertou algum interesse da mídia local e gerou um pequeno movimento. As pessoas entravam e admiravam as caixas das fitas como se fossem objetos advindos do século XIX. Contudo, algumas pessoas liberavam um sorriso compulsório quando vislumbravam um velho conhecido. E eles estavam todos lá: Harry e Sally, Hannibal Lector, Mr. Udall, Willian Wallace, Forrest Gump, Jerry Maguire, Linkavich Chamovisk e tantos outros. Não que eles não estivessem disponíveis em outras mídias, mas aqueles ali eram os originais, os próprios, os que eles haviam reservado para o sábado, assistido três vezes - porque não teriam a chance de ver de novo tão cedo - e esquecido de rebobinar. As lembranças, precocemente longínquas, de uma coisa tão recente e arcaica, causavam um sentimento de conforto e segurança, como no final de um filme de ‘volta pra casa’.
Em algumas semanas a locadora estava entregue à poeira e o seu único cliente era seu próprio dono, que comia os salgados e assistia a filmes o tempo todo. Não obstante, ele a manteve aberta, consumindo seu patrimônio.
Entretanto, às vezes alguém entrava ali, por curiosidade, e se dirigia à sessão de aventura notando que havia uma cópia de Jurassic Park II, com a caixa imitando rocha fossilizada. Segurava o receptáculo como quem segura um espelho e sorria ternamente. Olhava a sua volta buscando tempos idos e encontrava apenas um único olhar cúmplice, que aquiescia com a cabeça.
Postagens populares
-
Tempos atrás achei num sebo um pequeno livro com uma coletânea de textos e charges sobre o governo de Fernando Collor, produzidos por três g...
-
Os grandes clubes do futebol argentino são muito conhecidos no Brasil e sempre se relata a forma como a torcida desse país é apaixonada e in...
-
sábado, 31 de julho de 2010
domingo, 25 de julho de 2010
Compartilhar
Eu sempre gostei de escrever e desenhar pra expressar pensamentos divertidos ou inquietantes. Estranhamente nunca gostei muito de compartilhar essas criações com o resto dos seres humanos, excluindo uma meia dúzia de pessoas. Ou será que o estranho é ter vontade de que pessoas estranhas, ou pelo menos distantes, vejam o que você faz e compartilhem suas criações? Sei lá...
Pensei em outros nomes para esse blog. Inicialmente seria 'Espaçoso.com', fazendo graça com uma provocação que meus amigos insistem em fazer comigo, dizendo que sou folgado. Também pensei em 'Estilhaços', já que somos formados de tantos pequenos pedaços... Mas como esses nomes já estão em uso (espaçoso, acha???), acabei ficando com Pacaembuanas.
Com ele quero ocupar algum espaço da minha vida, e de quem vier a ler, e espero juntar alguns cacos.
Pensei em outros nomes para esse blog. Inicialmente seria 'Espaçoso.com', fazendo graça com uma provocação que meus amigos insistem em fazer comigo, dizendo que sou folgado. Também pensei em 'Estilhaços', já que somos formados de tantos pequenos pedaços... Mas como esses nomes já estão em uso (espaçoso, acha???), acabei ficando com Pacaembuanas.
Com ele quero ocupar algum espaço da minha vida, e de quem vier a ler, e espero juntar alguns cacos.
Assinar:
Postagens (Atom)